Cântico da noite
O trem riscou a noite,
abriu a terra em sulcos de ouro,
sacudiu o tempo adormecido
e semeou luz sobre a pele do mundo.
O orvalho brotou como flor,
despertando no ventre da estrada
a febre doce de existir.
E tudo vibrou:
o céu em fogo, a brisa em dança,
o dia espreguiçando cores
sobre o corpo da madrugada.
Um barco à deriva,
lançado ao azul sem margens,
levou os sonhos dos que acordam
com os olhos cheios de horizontes.
Veio a manhã, e os astros cantaram:
quem se perde, aprende o brilho,
quem se entrega, encontra o céu.
— Antônio Reis