O peito que não sabia ser mar

Trago nas mãos um incêndio,
uma febre mansa
que aprendeu a esperar o degelo.
O seu silêncio é feito de vidro
cortante e transparente,
mas eu vejo por trás da lâmina fria
um rio contido, um mar exilado
que pulsa sem saber se ainda sabe ser mar.

Há tanto oceano adormecido nas suas veias…
Tanto azul calado nas cavernas do seu peito…

Se me deixar entrar,
vou descer pelas fendas mais escuras,
onde a solidão afia suas garras.
Vou soprar meu nome na geada dos seus ossos,
vou incendiar as paredes geladas do seu peito
até que as geleiras desabem
em correntezas que você nem sabia que estavam lá.

Não quero apenas derreter o gelo,
quero ensinar seu peito a arder.
Quero ser o verão escondido
embaixo das suas costelas.
A lava lenta
que o tempo inteiro esteve ali,
mas que ninguém antes teve coragem de tocar.

Você me dirá que é inverno,
que nasceu feito pedra,
que não há mar em quem se acostumou ao gelo.
Mas eu te digo:
até mesmo os icebergs flutuam sobre águas salgadas.

Há mar em você.
Há mar, mesmo que escondido.
Mesmo que petrificado.
E eu não vou embora
até ouvir seu peito se abrir em ondas,
até sentir o gosto salgado daquilo que você tenta sufocar.

Se você me deixar ficar,
vou fazer do seu peito o meu cais.
Vou plantar sol entre as suas clavículas,
derreter os muros que o medo construiu,
até que você me abrace
como quem finalmente lembra
que nasceu para ser mar e não gelo.

— Antônio Reis

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Nascido em Juruaia, a famosa Capital da Lingerie em Minas Gerais, descobri minha paixão pela escrita em 2011 e desde então escrevo como um passatempo gratificante. Como criador do site Verdadeiramente.com.br, busco compartilhar minhas reflexões e perspectivas únicas sobre a vida. Meu objetivo é inspirar e desafiar as pessoas a pensar de maneira diferente, enquanto compartilho minha jornada pessoal de autoconhecimento.

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