Todos aqueles que partiram
Por que insistes em me amar com palavras gastas,
com promessas tão leves
que o vento carrega antes de chegarem ao meu peito?
Teus olhos dizem “fico”,
mas teus passos já sabem o caminho da porta.
Eu esperei, não por ti,
mas pelo silêncio que viria depois,
pelas cinzas mornas de um amor
que nunca ousou arder inteiro.
Raiva? Não de ti.
De mim.
Por ter sido o cais onde nunca aportaste,
a chama que queimou sozinha no escuro.
Tua partida é uma dor conhecida,
que me acompanha sorrateiramente
desde os primeiros amores.
Suspeitei, sim, tantas vezes,
que cada toque teu era provisório,
que tua pele já guardava despedidas
em cada poro.
Enquanto te vejo ir,
lembro dos outros que vieram antes,
homens que também me deixaram
com os braços cheios de vazio,
e as mãos colhendo sombras.
Falo demais ou calo o que sinto.
Sou uma ilha que tenta ser ponte,
mas a correnteza sempre leva tudo.
E eu esperei pelo pior para não sofrer mais,
culpei o mundo, culpei a ti,
mas no fim, culpei a mim mesmo.
De que adianta amar com tanto esforço?
Colocar minha alma em todos os teus gestos,
se o amor é sempre uma maré que se vai?
Troca-se o cenário,
mas a dor permanece,
uma tinta que mancha
até os quadros mais belos.
Tu te despedes e levas meu último suspiro.
Não há adeus que não doa,
nem palavra que console.
Tu vais,
e eu fico.
Como todas as vezes antes.
— Antônio Reis