Onde mora o silêncio
Há um lugar onde mora o silêncio,
onde a saudade estende seus lençóis
e dorme sobre um chão frio de lembranças.
Ali,
o tempo não se move.
As horas são estátuas,
e o vento, cansado, não sopra.
Eu moro lá.
Entre janelas que não abrem
e portas que só fecham para dentro.
Fico sentado no meio de mim mesmo,
ouço o rangido das memórias
e finjo que o vazio não dói.
Às vezes,
sinto teus passos sobre a madeira velha,
tua voz rasgando o silêncio com doçura.
Mas quando me viro,
não há ninguém.
Só o eco do que fomos,
esbarrando nos cantos
de um amor que ficou para trás.
Você partiu,
mas esqueceu de levar a sua sombra.
Ela caminha comigo pelas noites sem lua,
me abraça quando o mundo dorme
e sussurra baixinho
que você não volta.
E tudo bem.
Há coisas que nascem para ser silêncio,
e o silêncio, às vezes,
é o único lugar onde o amor sobrevive.
— Antônio Reis