Tanto te quis que nada de ti tive

Não dividirei minha vida com você. Não te verei viver. Não te verei morrer. E é engraçado, porque passei tanto tempo imaginando o contrário. Pensei em como seria envelhecer ao seu lado, ver os traços do tempo surgirem no seu rosto e nas suas mãos. Imaginei nós dois, com as cicatrizes da vida, sentados numa varanda qualquer, olhando para o mundo que construímos juntos. Mas esse mundo nunca foi nosso, nunca será.

Todas as vezes que me vi ao seu lado, vivendo uma vida juntos, eram apenas devaneios de uma mente que não aceitou a verdade: você nunca me quis da forma que eu te quis. Eu lutei sozinho por algo que, para você, nem sequer existiu. E isso dói mais do que qualquer coisa que eu poderia ter imaginado.

Você nunca soube das noites em que fiquei acordado, pensando em nós, no que poderíamos ser. Eu sonhei com o dia em que te veria entrar pela porta de casa, cansado de um dia longo, e eu estaria lá, te esperando, como a criança que espera a chegada dos pais depois de um dia de trabalho.

Queria ser um porto seguro para você, queria que você olhasse para mim e visse alguém com quem pudesse dividir suas lutas. Mas você nunca viu. Nunca me enxergou da forma que eu te enxergava. E eu, na minha ilusão, me contentava com migalhas, com a esperança de que um dia você mudaria de ideia.

E assim os dias foram passando. Eu vi seu sorriso se afastando, sua presença se tornando mais rara, sua ausência se tornando mais pesada. Eu fingia não perceber, fingia que estava tudo bem. Queria tanto que desse certo que preferi fechar os olhos para o óbvio: você não me queria. Não da forma que eu queria você. E não existe dor maior do que essa, de amar alguém que nunca te escolheu de verdade.

Eu imaginei cada detalhe da vida que teríamos. Imaginei as manhãs em que eu faria café para nós dois, os momentos de silêncio que compartilhríamos sem precisar dizer nada. Imaginei nossas discussões, nossas reconciliações, os dias de tédio e os dias de alegria. Eu criei, na minha cabeça, um futuro que nunca foi seu, apenas meu. Um futuro que eu projetei em você sem perceber que estava sozinho nessa construção.

A cada nova decepção, eu tentava encontrar explicações. “Ele está ocupado”, eu dizia para mim mesmo. “Ele precisa de tempo.” Eu criei desculpas para o seu desinteresse, inventei motivos para a sua ausência, quando a verdade era muito mais simples: você nunca me escolheu. Eu estava lá, disponível, pronto para te amar de todas as formas possíveis, mas você nunca quis esse amor. Você nunca precisou dele.

E, agora, depois de todo esse tempo, eu percebo que fui me perdendo no meio desse sentimento. Fui me diminuindo, me apagando, tentando ser a pessoa que você poderia, um dia, escolher. E, nessa tentativa desesperada de ser o que você precisava, me esqueci de mim. Esqueci do que eu merecia, do que eu precisava. Passei a viver para um amor que nunca existiu de verdade, um amor que só eu carregava.

Eu queria ser aquele que você procuraria nos momentos difíceis, quando o mundo desabasse sobre você. Queria estar ao seu lado nas suas vitórias, celebrar suas conquistas, te consolar nas suas perdas. Queria segurar sua mão nos momentos de dor e te abraçar nas noites em que tudo parecesse incerto. Mas nada disso aconteceu. E, agora, me vejo aqui, com todas essas memórias de uma vida que nunca aconteceu, de uma história que nunca foi nossa.

Eu sonhei com os filhos que poderíamos ter. Pensei em como seria ver seus olhos refletidos no rosto de uma criança que seria nossa, nossa continuidade no mundo. Pensei nas conversas que teríamos sobre o futuro, sobre os medos e as esperanças. Pensei nos sacrifícios que faríamos juntos, nas noites sem dormir, nas preocupações do dia-a-dia. Mas você nunca quis isso. Nunca me quis para essa jornada.

Eu queria ter feito parte da sua vida de uma forma mais profunda. Queria conhecer seus segredos, seus medos mais íntimos, aquilo que você esconde do mundo. Queria ser a pessoa para quem você se abriria, sem reservas. Mas você nunca me deu essa chance. Nunca abriu essa porta. E eu fiquei do lado de fora, esperando por algo que nunca veio.

É estranho perceber que, mesmo depois de tudo isso, eu ainda te desejo o melhor. Ainda quero que você seja feliz, que encontre alguém que te faça sentir aquilo que eu queria te fazer sentir. Eu quero que você viva a vida que eu sonhei viver ao seu lado, mesmo que seja com outra pessoa. E isso é o mais triste de tudo. Amar alguém tanto a ponto de desejar sua felicidade, mesmo quando essa felicidade não inclui você.

Eu olho para o futuro agora e ele parece vazio. Não porque eu não possa reconstruir, mas porque o que eu construí na minha cabeça foi demolido antes mesmo de ganhar forma. Eu não sei o que vai acontecer daqui para frente, mas sei que nada será como imaginei. Porque, no fundo, o que eu imaginei não era real. E aceitar isso é um dos maiores desafios que já enfrentei.

Essa carta é minha despedida. Não de você, porque, de certa forma, já nos despedimos há muito tempo, ainda que sem palavras. Mas é minha despedida de tudo que sonhei, de tudo que imaginei para nós dois. É o adeus para uma parte de mim que precisa ser deixada para trás, para que eu possa seguir em frente. Porque, por mais doloroso que seja, preciso aceitar que você nunca foi meu. E nunca será.

Então, adeus. Adeus à vida que eu criei para nós dois. Adeus aos sonhos que nunca serão realidade. Adeus ao amor que carreguei sozinho. Eu vou me despedir, não porque quero, mas porque preciso. Porque continuar esperando por algo que nunca vai acontecer é me condenar a uma tristeza que não mereço carregar.

Tudo que posso fazer agora é aceitar que não fomos. E nunca seremos.

— Antônio Reis

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Nascido em Juruaia, a famosa Capital da Lingerie em Minas Gerais, descobri minha paixão pela escrita em 2011 e desde então escrevo como um passatempo gratificante. Como criador do site Verdadeiramente.com.br, busco compartilhar minhas reflexões e perspectivas únicas sobre a vida. Meu objetivo é inspirar e desafiar as pessoas a pensar de maneira diferente, enquanto compartilho minha jornada pessoal de autoconhecimento.

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