Eu sabia que você iria embora
Eu sabia, desde o primeiro dia, que você iria embora um dia. Eu só não esperava que seria tão cedo; que seria no amanhecer das nossas almas, num amanhecer tão claro e de um sol tão quente que nos viu nascer. Você se foi ao meio-dia do dia das escolhas mais difíceis. À tarde, eu já me encontrava só, com apenas o pôr do sol como o telespectador da minha tragédia pessoal.
Se o sol gostaria de dizer algo, eu suponho que ele tenha dito. Eu lembro… as nuvens encobriam o sol, e um brilho lúgubre pairava sobre minha alma despedaça, como se quisesse dizer que eu estava certo desde o início. A noite chegou para mim. E a noite persiste pelas horas de um relógio com ponteiros travados ainda ao meio-dia.
E sobre você? Eu não sei sobre você. Não sei mais. Eu não te procurei mais. Você me abandonou no momento mais precioso da minha vida — das nossas vidas, na verdade. E faltava tão pouco para chegarmos ao cais! Por que você partiu antes? A praia eu já podia ver! Você pulou do barco para o mar profundo; o mar das incertezas absolutas; do amor que se encerra; do coração que morre; da alma que se despedaça pelas ações cruéis da vida.
Eu queria te salvar! Eu queria nos salvar!
Meu porto seguro era você. A noite trazia as inseguranças de uma vida no mar de vidro, mas era a nossa vida. Desde o início sabíamos das dificuldades, mas conseguimos superar a maioria delas. Por que agora você não pôde escolher a nós, assim, tão perto do final?
Sim, eu sabia que você iria embora um dia. Na nossa velhice. De morte natural. Talvez você partisse primeiro, talvez eu; mas eu acreditava que estaríamos juntos até lá. Agora não mais. Você se foi.
O destino pesou sobre nossas cabeças diversas vezes. Mas, como Atlas, conseguimos suportar o peso do mundo. E o mundo desistiu de nós; rendeu-se e nos deu o prêmio da persistência de um amor verdadeiro que a tudo é capaz de suportar e vencer.
Eu me enganei. Me iludi por causa das diversas lutas que travamos. Comecei a acreditar que nada e nem ninguém seria capaz de nos vencer, de nos destruir, de nos separar. E ao meio-dia você se foi.
Hoje, com sua ausência, a noite perdura por semanas sem fim. Minha alma ficou presa no início da noite daquele trágico dia. E assim ela segue, incapaz de ver o sol nascer de novo. Meu coração anseia que tudo isso seja apenas um pesadelo, e que, ao amanhecer, você estará novamente ao meu lado, dormindo comigo. Como você era bonito dormindo…
(…)
Nos dávamos tão bem, e isso é o que mais machuca. Como fomos capazes de nos dar tão bem?
Eu não imaginava que tudo isso terminaria com meus olhos molhados, o coração estilhaçado e a alma abatida.
Adeus, meu bebê. Adeus, meu amor.
— Antônio Reis