O abismo entre os tempos
Sempre tão profundo,
sempre tão além das margens,
onde as sombras dançam sem corpo
e os ruídos respiram sem boca.
Sempre tão sozinho,
feito estrela que brilha no fim do mundo,
feito palavra esquecida no livro nunca lido,
feito nome sussurrado por bocas que nunca existiram.
Sempre um vazio que se torna tudo,
um espaço onde o tempo desaba,
onde o silêncio constrói sua casa,
onde o infinito repousa suas asas cansadas.
Sempre o nada,
e no nada—
o todo, o sopro, a vertigem,
o começo que nunca nasceu,
o fim que nunca morreu.
— Antônio Reis