Faça-se mar
Quero tocar o gelo do seu peito
com as pontas dos meus dedos febris,
derreter as manhãs trancadas
que dormem na caverna dos seus silêncios.
Há um inverno morando em você,
um frio que morde a ternura,
mas eu venho com o fogo lento dos que amam,
sem pressa e sem medo,
pronto para acender as marés esquecidas
que a sua solidão congelou.
Se me deixar,
deslizo pelas suas muralhas de névoa,
desfaço cristais na força morna da minha voz
até que seu peito, salgado e livre,
aprenda outra vez o nome do mar.
Que venham ondas
onde antes só havia pedra.
Que venham pássaros
onde só o silêncio pousava.
E que o frio,
feito memória,
se renda à febre branda
do meu abraço.
— Antônio Reis