Explode, coração
essa chama abafada na palma das mãos.
Chega dessa febre contida,
dessa vontade calada
que me arde por dentro,
sem nunca se dizer inteira.
Eu não quero mais disfarçar o que me atravessa.
Eu quero é gritar o seu nome,
rasgar a pele,
deixar que esse amor me devore
até o último pedaço.
Quero me abrir inteiro,
sem medo e sem vergonha.
Deixar que essa paixão me inunde,
que me leve feito correnteza.
Eu quero mais é sangrar de tanto sentir.
Quero queimar até virar cinza,
quero dançar sobre os escombros do meu próprio coração.
Não dá mais pra conter o que sempre foi maior que eu.
Não dá mais pra viver pela metade,
pra sufocar essa sede nas margens do seu corpo.
Se é pra amar,
que seja até doer.
Se é pra sofrer,
que seja até não restar nenhum pedaço intacto.
Se é pra viver,
que seja explodindo por dentro,
me entregando sem rede,
sem medo de cair.
Eu quero que essa paixão me rasgue,
me rompa,
me tome todo —
do corpo aos ossos,
da boca à alma.
Que esse amor entre em mim
como o sol estourando a madrugada,
invadindo cada fresta onde eu ainda tentei me esconder.
Quero sentir a dor dessa manhã nascendo dentro do peito,
rompendo minhas costelas,
derrubando os muros que ergui para não te querer.
E se for pra chorar,
que eu chore até me afogar.
Se for pra sofrer,
que seja com gosto,
com gemido,
com carne viva.
Eu quero que o amor me leve até o fim,
até o último grão de mim mesmo.
Que me tome sem piedade.
Que me arrebente,
que me use,
que me deixe em pedaços.
Não quero mais essa paixão domada,
essa ternura acorrentada,
essa saudade murmurando baixinho para não acordar o mundo.
Eu quero o grito,
a fúria,
o incêndio,
a correnteza afogando tudo.
Quero o coração estourando no peito
feito bomba,
feito cólera,
feito loucura de quem não sabe amar de outro jeito.
Chega de tentar ser calmo,
ser prudente,
ser poesia mansa!
Eu quero ser música na sua boca,
eu quero ser tempestade nos seus dedos,
eu quero ser desatino,
debandada,
desmoronamento.
Quero o amor doído,
o amor que arde,
que lambe as feridas,
que me deixa nu e inteiro ao mesmo tempo.
Me deixe viver essa paixão,
pois de nada desejo me poupar.
Me deixe te querer,
pois eu nunca soube querer menos.
Explode, coração,
que já não há mais nada em mim que possa te conter.
— Antônio Reis