Quando você entender
Independentemente do que você veja em mim,
seja espelho quebrado ou reflexo cristalino,
saiba que, na vastidão dos dias,
nenhum olhar carregará o peso
de tanto amor quanto o meu.
Um dia, talvez tarde demais,
você ouvirá o silêncio da minha voz,
como uma palavra que ficou presa
na garganta da saudade.
E entenderá que eu fui a chuva mansa
que molhou a sua terra seca.
Você me teve na palma de sua mão,
mas segurou como quem prende o vento,
sem saber que o vento é livre
e só permanece onde encontra abrigo.
Eu era um pássaro, e você nunca viu
que meu voo sempre voltava ao seu céu.
Quando eu me for,
e o tempo lhe trazer as memórias
como folhas que o vento insiste em espalhar,
você pensará nas palavras que eu dizia,
no riso desengonçado,
no calor do meu abraço
que apagava as frias noites da sua alma.
Não haverá outro amor assim,
porque amei sem medida,
sem amarras, sem exigências.
Eu fui rio que correu até secar,
fui vela que queimou até a última chama,
fui estrada longa, mesmo sabendo
que você nunca caminharia comigo até o fim.
E quando minha ausência for mais forte que o orgulho,
você entenderá que o meu amor
não era um contrato, mas um presente
que eu dei sem esperar nada em troca.
E, nesse instante, meu nome será um grito desesperado
nos corredores da sua memória.
E eu terei ido,
deixando meu perfume nos espaços vazios,
e você, enfim, saberá
que entre todos os rostos,
entre todos os corações,
nenhum carregará o peso
do amor que eu te dei.
E, ainda assim, eu não voltarei.
— Antônio Reis