O peso que não se vê

Há dias que são de pedra e vento.
Dias em que o mundo me atravessa
com a fúria de um rio
que nunca soube a doçura da margem.
Tudo dói.
Mesmo o que não tem nome,
mesmo o que não sei tocar.
Dói como um silêncio que se estende
entre o peito e o infinito.

Ninguém vê.
Ninguém ouve o naufrágio miúdo
que acontece em mim –
um barco sem leme
no meio de um mar que desconheço.
As mãos cheias de nada,
o corpo cansado de carregar
o peso invisível dos dias.

Há um peso que não se mede.
Não é o peso do chão,
nem das coisas que as mãos alcançam.
É outro, mais fundo, mais bruto,
um peso que habita o lugar
onde o coração se cala
e o mundo não entra.

Eu sorrio.
Mas meu sorriso é um punhal sem lâmina,
um gesto feito para enganar os olhos alheios.
Por dentro, carrego tempestades,
carrego pedras,
carrego perguntas que nunca ousei fazer.
E o pior é que finjo.
Ah, como aprendi a fingir!
Fingir que o peito não dói,
que o mundo não pesa,
que a alma não sangra.

E me calo.
Porque o silêncio é um refúgio,
um lugar onde escondo o que sou.
É mais fácil calar
do que abrir as portas do meu peito
e deixar o mundo ver:
ver que as tempestades têm nome,
ver que o que há por trás deste rosto
é um caos sem contornos.

Na solidão, sou tão pequeno.
Sou menor que o espelho que me olha,
menor que a sombra que me segue.
Sou apenas um nome
que o vento despedaça
e o tempo dissolve devagar.

Naquele dia,
ah, naquele dia,
o chão era mais fundo.
Eu quis segurar o mundo nos braços,
mas o mundo me escapou.
Eu quis ser forte,
mas a força era apenas uma palavra,
uma promessa feita a ninguém.

E segurei as lágrimas.
Porque chorar era o mesmo que cair,
e eu não queria cair mais.
Segurei porque aprendi
que o mundo não para pelos meus abismos.
Segurei porque a dor,
essa dor sem rosto,
não deixa cicatrizes que possam ser vistas.

Ela pesa.
Ah, como pesa.
Pesa aqui, onde ninguém olha,
onde o silêncio escorre,
onde a alma se curva todos os dias
e continua caminhando,
como quem finge que a vida é leve.

— Antônio Reis

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