Há dias difíceis
Há dias difíceis.
Dias que vêm como sombras,
que crescem sobre mim sem pedir licença.
E ninguém percebe os pequenos naufrágios
que se acumulam dentro do meu peito.
Há dias em que o mundo pesa demais.
E não falo do peso que os olhos podem ver,
nem das pedras que as mãos conseguem tocar.
Falo do peso que vive aqui dentro,
no espaço onde as palavras não chegam,
onde o silêncio mora.
Há dias em que a alma parece carregar o céu inteiro,
e ninguém percebe.
Eu sorrio,
porque sorrir é mais fácil
do que abrir o peito
e mostrar o caos que vive aqui.
Eu finjo que sou leve,
mas por dentro carrego tempestades.
Tempestades das quais nunca falei,
de perguntas que nunca fiz,
de dores que não ouso confessar.
E me calo,
porque calar é mais fácil
do que abrir a alma e deixar o mundo ver
o que há por trás desse sorriso falso,
porque é isso que se faz quando o peito dói.
A gente engole as palavras,
tranca as lágrimas,
e segue em frente,
carregando o mundo nas costas
e fingindo que ele não pesa.
Como é estranho ser tão grande por fora
e tão pequeno por dentro!
Ser forte para o mundo,
mas frágil na solidão do espelho!
As barreiras se romperam.
Eu quis fingir que nada importava,
que estava tudo bem.
Mas, naquele dia…
Naquele dia, eu me senti menor do que sou.
Menor do que o reflexo que me encara no espelho,
menor do que a minha própria sombra.
Eu segurei as lágrimas.
Segurei porque aprendi a ser forte,
ou pelo menos a parecer forte.
Segurei porque achei que o mundo
não teria tempo para os meus abismos.
Parecia não haver nada de errado, eu sei.
Não havia feridas que pudessem ser vistas,
nem cicatrizes para apontar com os dedos.
Mas havia algo…
Algo que pesava.
Algo que se prendia a mim,
um fardo que ninguém enxergava,
mas que eu carregava todos os dias,
sem que ninguém soubesse.
— Antônio Reis