Última palavra
Não, eu não te culpo.
O amor, no fundo,
é feito de partidas.
Mesmo quando fica,
parte um pedaço de nós
e leva embora.
Deixei de contar os dias
em que te esperei voltar.
Foram tantos,
que as horas aprenderam a passar
sem que eu as percebesse.
E mesmo agora,
quando finjo que a vida segue,
ainda te vejo nas pequenas coisas:
no café frio que esqueço na mesa,
na música que toca sozinha,
nas palavras que escrevo
sem querer dizer teu nome.
Eu quis dizer tantas coisas,
mas o amor,
quando vai embora,
leva com ele a última palavra.
Fica só o vazio,
aquele que conheço bem,
que me chama pelo nome
nas madrugadas mais longas.
Hoje, não espero mais.
Deixo que o vento leve o que sobrou,
que a chuva lave o que foi dor,
e que a vida, enfim,
me devolva a mim mesmo.
Você se foi.
E eu, enfim, fiquei.
— Antônio Reis