O tempo que não voltou
Eu caminhei por dentro de você.
Conheci teus olhos fechados,
teus silêncios que falavam,
teus cansaços guardados nos ombros.
Era tanto mundo em você,
e eu, tão pequeno,
quis ser casa, quis ser abrigo,
mas fui apenas visitante
em tua morada sem paredes.
Não te culpo.
O amor, às vezes, é como o tempo:
não espera,
não volta,
não perdoa.
O que fomos se perdeu entre as horas,
nas coisas que não dissemos,
no que ficou preso na garganta
feito nó cego.
Mas olha, eu amei!
Amei com a força de quem não sabia
que o amor também cansa,
que o amor também desiste,
que o amor também some
sem pedir licença.
Hoje, me visto de lembranças
como quem veste um velho casaco.
É surrado, é gasto,
mas ainda aquece
nos dias frios de solidão.
Não quero de volta o que fui com você,
nem as horas que o relógio comeu.
Quero apenas que, em alguma noite qualquer,
quando o silêncio te chamar pelo nome,
você sinta no peito
o eco do que deixamos de ser.
Porque o amor,
mesmo quando acaba,
nunca vai embora de todo.
Ele fica.
Fica nos cantos da casa,
nas cartas rasgadas,
nas fotos que não queimamos,
nos versos que te escrevi
sem coragem de ler em voz alta.
E está tudo bem.
Fomos o que podíamos ser.
E hoje, quando eu fecho os olhos,
te guardo inteiro
em um lugar que o tempo não toca.
— Antônio Reis