O que ficou no lugar
Eu te quis como a noite quer o fogo,
uma chama pequena, tímida,
mas suficiente para não morrer de frio.
Eu te quis como a terra quer a chuva,
o beijo que devolve vida às raízes,
e umedece o silêncio seco das folhas caídas.
Mas o amor foi mais vento do que chão,
não fincou raiz, não deixou pegada.
Era sopro, era sombra,
era quase.
E eu fiquei aqui,
sentado no meio da sala vazia,
ouvindo os móveis rangendo saudade
e as paredes repetindo o teu nome.
Quem foi que inventou esse amor?
Quem foi que nos deu
essa pressa de eternidade
e nos esqueceu na metade do caminho?
Ah, o amor…
Esse bicho que morde e depois lambe,
que abraça e depois parte,
e deixa no peito
um buraco que não fecha,
um eco que não cessa,
uma dor que, de tão bonita,
a gente quer guardar.
Agora,
o que tenho são tuas ausências.
São mais tuas do que você foi.
Guardei-as numa caixa de papelão,
sob a cama,
para ouvir o silêncio que sobra
quando o vento fecha a porta.
Que fiques bem onde quer que te inventes.
E que saibas:
quando a noite for maior que o mundo,
o amor que deixaste em mim
ainda há de ser um farol,
mesmo que a luz não alcance nada.
E é só.
— Antônio Reis