O amor é agora
Eu te vejo e o mundo se cala.
As horas param.
Os dias vestem cores
que eu nem sabia o nome.
Amar você é como abrir a janela
e deixar o vento entrar,
bagunçar a casa,
espalhar o cheiro das flores,
acordar os meus sonhos esquecidos.
Ah, o amor!
Quem diria que um dia ele viria assim,
sem pressa,
sem aviso,
batendo à porta do peito
com mãos de primavera?
Você chegou
como chegam as manhãs de verão:
de mansinho,
mas trazendo o sol junto.
E quando dei por mim,
já não cabia mais tristeza no meu peito.
Eu, que tantas vezes fui silêncio,
sou agora música.
Sou rio que corre,
sou asa aberta,
sou riso que não cabe na boca.
Te amar é coisa simples.
É andar de mãos dadas
com o que a vida tem de bonito.
É a calma depois da chuva,
o cheiro de café pela casa,
a rede que balança devagar
enquanto o tempo esquece de passar.
Olha!
Olha o amor como ele dança!
Como ele é leve!
Como ele é inteiro!
Não tem medo, não tem sobra.
É o agora,
o instante exato onde o coração repousa
e sabe que chegou em casa.
Porque amar você
é chegar,
descalço e livre,
num lugar onde não se pede licença.
É como pisar na grama molhada,
sentir o frio subir pelos pés
e, ainda assim, sorrir.
Eu olho para você
e a vida se ajeita.
As perguntas se calam.
As dores se deitam.
E o amor,
esse amor que me enche inteiro,
dança devagar,
como se não tivesse fim.
Há dias em que acordo
com teu nome sussurrando nos meus sonhos.
Teu rosto desenhado pelo sol
nas paredes do quarto.
E é como se Deus sorrisse,
dizendo:
“Vê? O amor coube em você.”
E eu, que tantas vezes chorei ao vento,
hoje sou sorriso largo,
sou palavra inteira,
sou corpo que dança
pelos cômodos de uma casa feliz.
Eu amo você!
E isso basta.
Basta como a manhã basta ao dia,
como o mar basta às ondas,
como o peito basta ao coração
que não sabe outra coisa
senão bater no compasso do agora.
Eu amo!
E o amor não se mede,
não se guarda,
não se explica.
O amor se vive,
se espalha,
se canta aos quatro ventos,
como um passarinho que não sabe voar
sem abrir as asas.
E quando a noite chega,
me deito ao teu lado
e agradeço.
Agradeço pelas horas pequenas,
pelo tempo grande,
pelos teus olhos que me olham
como se eu fosse o mundo.
Agradeço porque o amor veio —
não como promessa,
mas como certeza.
Amar você
é saber que o amanhã pode esperar,
porque o amor é agora.
É instante.
É presença.
É o milagre de duas vidas que se encontram
e se reconhecem na mesma luz.
Ah, o amor…
Que ele sempre caiba na gente.
Que ele sempre dure o tempo do agora.
Porque o agora,
quando se ama,
é eterno.
— Antônio Reis