Enquanto você não vem
É da espera que eu vivo.
Não da angústia,
mas do doce e misterioso intervalo
entre o agora e o instante em que te encontrarei.
Eu gosto de saber que você está por aí,
andando por ruas que ainda não conheço,
olhando pelas janelas que talvez um dia
também sejam minhas.
Gosto de imaginar você.
Talvez agora esteja distraído,
com um café quente nas mãos,
ou talvez esteja em movimento,
virando uma esquina qualquer,
sem sequer imaginar que é para mim que anda,
que é para mim que respira,
que é em mim que a sua história vai terminar.
Será quando nossos olhos se cruzarem.
E eu saberei.
Não por sinais grandiosos,
mas por aquele sussurro,
a certeza mansa de que você
é a peça que faltava,
o pouso para os meus dias inquietos.
Antes de você,
eu amei outros corpos.
Toquei outras mãos,
proferi palavras que julguei eternas
mas que o tempo levou embora.
E você, sei bem,
também trará marcas,
cicatrizes que eu quero desvendar devagar,
como quem lê um livro antigo
com paciência e reverência.
Eu só quero dizer,
quando você chegar,
que não quero perder você.
Que não haverá outro alguém
que preencha minhas noites,
que acaricie o espaço entre as palavras não ditas,
que traduza meus silêncios.
Não quero outra boca além da sua.
Outras mãos seriam estranhas
sobre minha pele,
outros olhares seriam opacos.
Você será tudo,
o começo e o fim
de todas as histórias que imaginei viver.
E o mais bonito de tudo é saber que você existe.
Em algum lugar, agora,
talvez distraído, talvez esperando.
Quem sabe esteja diante de uma xícara de chá,
olhando pela janela,
ou caminhando por entre as árvores de uma praça.
Eu gosto de pensar que você também sente.
Que você também sabe,
mesmo sem saber meu nome,
mesmo sem nunca ter ouvido minha voz,
que somos dois barcos
navegando para um mesmo porto.
A nossa hora vai chegar.
E não haverá palavra,
olhar ou toque que não seja inteiro.
Eu sei que você está por aí.
E isso,
só isso,
já faz a vida ter sentido.
— Antônio Reis