Amor que ficou em mim
Eu não sabia…
Não sabia que o amor podia
deixar rastros tão fundos.
Que cada palavra tua
ficaria tatuada nas paredes do meu peito.
Ainda sinto tua voz –
não como som, mas como presença.
Ela dança no ar,
flutua entre as coisas simples:
na poeira que insiste em voltar à mesa,
no abrir de uma porta vazia,
no cheiro do café que esfria devagar.
Você está aqui,
mesmo não estando.
Teu nome ecoa em mim
como uma música que não esqueço a melodia,
mesmo sem lembrar a letra.
E eu?
Eu fico.
Fico entre o que fomos
e o que jamais seremos.
Fico onde o amor escolheu morrer,
mas nunca foi embora.
Nas madrugadas longas,
te vejo.
Mas é um ver com os olhos fechados,
um toque que não alcança,
uma verdade que mente pra si mesma.
Você se foi,
mas esqueceu de apagar o rastro.
Esqueceu de levar o calor da tua mão,
o jeito como teus olhos diziam
o que nunca ousaram falar.
E eu, que sempre soube que o amor
é feito de chegar e partir,
agora sei que ele também é feito de ficar.
Porque ficou.
Ficou em mim,
nas frestas do peito,
nos espaços que o tempo não preenche.
Você se foi,
mas o amor…
Ah, o amor ficou.
— Antônio Reis