Amor em cinzas
Eu te amei…
Ah, como eu te amei.
Não com o amor que espera,
não com o amor que pede.
Eu te amei com o amor que cede,
que silencia,
que sangra sem deixar rastro.
Te amei na solidão das noites,
no escuro,
onde só as estrelas, cúmplices,
me viam chorar.
Tantas palavras ficaram presas aqui,
na garganta, no peito, nas mãos…
Palavras que eu quis dizer,
mas nunca ousei entregar.
E o tempo –
esse algoz implacável –
corria lá fora,
enquanto eu, parado,
me afogava na espera,
te amando sem pressa de mim.
E agora, o que restou?
Cinzas.
Cinzas de um amor que nunca queimou em ti,
mas que me incendiou inteiro.
Sinto falta…
Como sinto falta do riso leve,
daquela esperança tola que carreguei,
de quando acreditava que o amor,
só ele,
era o suficiente.
E ainda assim…
Eu te amei.
Amei-te como quem ama o impossível,
como quem sonha com o mar
mesmo sabendo que jamais aprenderá a nadar.
No silêncio, no segredo,
carreguei esse amor como uma cruz,
um fardo que era meu
e que só eu podia suportar.
Na palma da minha mão,
o amor ainda arde,
mas é só cinza.
Cinza que o vento leva,
e eu deixo ir…
Porque amar-te,
mesmo assim,
foi tudo o que soube ser.
— Antônio Reis