Um adeus só meu
Nunca verei seus cabelos ficando grisalhos com o tempo, nem estarei ao seu lado quando o peso dos anos dobrar seus ombros. Não serei a pessoa que vai te segurar quando o mundo te fizer cair, nem o sorriso que você procurará no meio da multidão.
Eu imaginei tanto. Planejei nosso futuro com detalhes que você nunca saberá. Nossas viagens, nossas conversas pela casa, as brigas bobas e as reconciliações. Imaginei acordar ao seu lado em dias de sol, preparar um café que você talvez nem gostasse, mas eu insistiria em fazer.
Eu vi tudo isso, como um filme que nunca aconteceu. Vi nossos filhos, ou a decisão de não tê-los, vi as casas que não compramos, os móveis que não escolhemos juntos. Pensei nas histórias que contaríamos aos amigos, nas festas que daríamos, nas rotinas que construiríamos sem nem perceber. Era uma vida inteira que eu tinha nas mãos, mas que nunca foi real.
Nunca terei o prazer de ver seu cansaço no fim do dia, nem de dividir o peso da rotina que eu tanto queria dividir. Não estarei lá quando você tiver seus sucessos, suas vitórias, suas derrotas. E isso dói. Dói saber que todas as vezes em que quis ser seu apoio, você nunca precisou de mim. Eu era dispensável. Fui rejeitado antes mesmo de tentar ser parte do seu mundo.
Eu quis ser aquele com quem você dividiria suas inseguranças. Quis te segurar quando o medo fosse demais, quando o mundo pesasse. Eu quis ser o ombro no qual você pudesse chorar sem vergonha. Mas não fui. Não sou. E nunca serei.
Eu imaginei os domingos, quando a única obrigação seria estarmos juntos. Talvez assistindo a um filme qualquer, talvez cozinhando alguma receita nova e rindo do desastre que sairia dela. Eu imaginei tantas risadas. Eu imaginei conversas sobre o futuro, planos que nunca passaram de palavras soltas no ar.
Nós nunca trocamos promessas. Nunca dividimos sonhos. O que para mim era o possível futuro, para você era apenas uma fase que logo passaria. E passou. Eu fiquei preso naquela ideia de que um dia, talvez, você olharia para mim de outra forma. Mas o dia nunca chegou.
Você me deixou aqui, com todas as expectativas que criei sozinho. Não fui escolhido. Fui deixado de lado, como uma opção que nunca seria a primeira. O que para mim parecia um começo, para você nunca teve sequer importância. Enquanto eu sonhava, você já seguia em frente.
Não veremos nossos aniversários passarem. Não comemoraremos nossas conquistas, nem lidaremos com as perdas que a vida inevitavelmente traria. Eu pensei que estaríamos lá, lado a lado, mas essa história nunca foi nossa.
Você seguiu em frente enquanto eu fiquei aqui. Eu queria ser a pessoa com quem você dividiria seus medos e inseguranças. Queria ser aquele que você procuraria quando as coisas ficassem difíceis. Mas, no final, eu fui só uma sombra, alguém que nunca ocupou o espaço que desejei.
A verdade é que te amei sem nunca ter te tido. E agora, só me resta me despedir de tudo que sonhei e que nunca será. Não fomos, não seremos, e isso dói mais do que qualquer palavra que eu possa escrever. É uma dor que vai corroendo o que restou de mim.
E agora escrevo esta despedida que você nunca verá. Um adeus que é só meu, pois você já se despediu há muito tempo.
— Antônio Reis