Não mais
Não mais serei teu e tu não serás meu. A vida, com suas artimanhas cruéis, nos levou por caminhos separados, como águas que seguem distintos leitos, sem encontrar sua confluência. O que era um “nós” pleno de promessas e sonhos, agora é o eco vazio de um passado que se esvai.
Não me alcançarás mais com teu olhar, nem me envolverás em teus braços, como fazíamos sob o manto das estrelas. O tempo, traiçoeiro, nos fez desconhecidos, estranhos em nossas próprias peles, mesmo que um dia fôssemos um só.
O que fomos um para o outro? Pergunto-me em desespero, pois a resposta se perde na névoa densa do esquecimento. Quem fui eu para ti? Quem foste tu para mim? Já não me recordo, e a incerteza assombra meus pensamentos.
Não saberei nunca se as palavras que trocamos eram sinceras, se os sentimentos que nutrimos eram reais. E hoje, sozinho em minhas reflexões, percebo que a verdade se esconde nas entrelinhas do que foi dito, nas entrelinhas do que ficou por dizer.
Não mais compartilharemos nossas alegrias e tristezas, nossos desejos e temores. O futuro, com seu manto escuro de mistérios, nos separa como uma cortina que cai, e eu permaneço aqui, com a saudade a me consumir.
Como eu queria que as coisas fossem diferentes! Que nossos destinos se entrelaçassem de forma indelével, que os ventos nos trouxessem de volta um ao outro. Mas o tempo não volta atrás, e o que resta é apenas o eco dos momentos que vivemos juntos.
Não mais te terei, não mais te sentirei, não mais te amarei. Talvez um dia, em um instante de descuido, nossos olhares se cruzem novamente, e talvez, só talvez, aí sim, saberemos o que realmente fomos um para o outro. Até lá, sigo em busca de respostas perdidas, em um desabafo silencioso que ecoa no íntimo da minha alma.
— Antônio Reis